domingo, 6 de setembro de 2015

Ser Igreja de Deus.

Convite à Loucura Nº46 O Ser Igreja no Senhor.
     Na Igreja do Novo Testamento os crentes eram Igreja, hoje as pessoas pertencem a uma igreja[1]. O ser Igreja é compreender que Deus nos ama como somos e não como uma denominação diz que deveríamos ser. Ser Igreja é amar mesmo sem ser amado, é saber que somos habitação de quem tanto nos amou e nos ama em sua infinita graça e misericórdia mesmo sem merecermos.
O Pertencer a uma “igreja”.
     Agora, pertencer a “igreja” é outra coisa totalmente diferente dos princípios de Cristo.[2] O pertencer a “igreja” é simplesmente estar na “igreja instituição”. Cristo Jesus não nos chamou para pertencermos a “igrejas” belíssimas e sim para sermos belíssimos como Igreja. Viver como Igreja é mais importante do que erguer templos enormes para encher de pessoas vazias, indivíduos que se fecharão naquele clubinho social e quase sempre condenando outros que escolheram um viver diferente.
Cristo nunca se distanciará do seu povo!
      Os que pertencem à “igreja”, muitas vezes descrevem um Jesus bem diferente do Jesus do evangelho, um Jesus tirano e vingativo que por qualquer coisa se distancia do crente e ainda o castiga, quando na verdade o Jesus do evangelho disse que estaria com o crente verdadeiro “todos os dias até a consumação dos séculos.” (Mateus 28.20). 
      Deus nos ama não por razão de sermos bonzinhos ou por que merecemos seu amor pois o amor de Cristo é incondicional.
     
      No texto de Mateus 9.9-13 vemos Jesus amando alguém que era odiado pela sociedade judaica, o publicano. Ele estava sentado na coletoria porque ele era um coletor de impostos (v.9). Os coletores de impostos estavam entre as pessoas mais desprezadas nessa sociedade. Pois geralmente era um judeu que cobrava dos judeus para entregar para os romanos. As vezes, parte do dinheiro coletado era para ganho pessoal e a outra parte era imposto para Roma, assim eles eram considerados como traidores da nação judaica.[3] Isso mostra que Jesus não veio para os super crentes que pertencem à “igreja”, veio para os pecadores que em Cristo e por causa de Cristo descansam sendo Igreja (Mateus 11.28).

Diz Jesus: “Segue-me!”
     É interessante que o Senhor Jesus chama Mateus usando o verbo grego que é o imperativo presente ativo de a)))kolouqe///w (indicando que é uma ordem para fazer algo no futuro, e envolve uma ação continuada ou repetida). Literalmente Cristo está dizendo: “Liga-te à minha pessoa a fim de ouvir e me seguir.” Ou seja, o Senhor chamou Mateus para “ir atrás dele” e não ser guiado pelo preconceito dos religiosos da época (os fariseus) que eram os sacerdotes e doutores da lei, temidos por seu rigor e poder político. Hoje em dia os que lideram à “igreja” e os que estão na “igreja instituição” são vistos da mesma forma que os fariseus da época de Jesus tratando os outros como publicanos, mas graças a Deus que Jesus veio justamente para os pecadores. E Jesus confronta os religiosos com a frase: “...misericórdia quero, e não sacrifício...”.[4] O sacrifício mais importante, maior e agradável para Deus é o nosso amor sincero e isso só faz quem quer ser Igreja.
     Estar na “igreja” nos limita, permanecer na “igreja” nos isola. Agora o ser Igreja nos uni e nos faz de fato discípulos que anda atrás de Jesus. Seja Igreja para servir e adorar a Deus em todo e qualquer lugar, seja Igreja para pertencer a sociedade e fazer diferença do que serve a Deus e do que não serve através do amor puro e verdadeiro sem querer nada em troca.
     Quem é Igreja acolhe, quem pertence a “igreja” exclui, separa, quem está na “igreja” não consegue ir atrás de Jesus, pois está preso a costumes, tradições e ao legalismo.
     Quem está em Cristo faz parte de sua Igreja, pois está salvo e viverá eternamente (João 5.24). Cabe agora ao homem crer nessa providência e arrepender-se de sua atual situação de pecado (Atos 3.19). Não existe crente sem Igreja, pois ele é a Igreja! Todos nós, discípulos de Cristo, somos Igreja de Deus e Cristo é a “cabeça dessa Igreja” (Efésios 4.15). Só Jesus é cabeça (grego; kefalh//// ) e ninguém mais.
A igreja como um negócio!
      Cada vez mais a igreja institucionalizada se assemelha a uma organização empresarial. Sua liderança e seus métodos para com seus servos operários (os obreiros e missionários) estão cada vez mais próximos de uma metodologia empresarial capitalista.

     Os escritores do Novo Testamento nunca usam a aparência de uma corporação comercial para descrever a Igreja. Diferentemente da igreja institucional, os cristãos primitivos não conheciam coisas como gastar quantidades colossais em programas e projetos de construção, em vez de assumir o fardo pesado de seus irmãos. A verdade é que a igreja institucional é visualizada como uma corporação. O pastor é o executivo principal; há juntas e comitês. O evangelismo é o processo industrial pelo qual é feito seu produto, e as vendas podem ser traçadas num diagrama, comparadas e previstas, há também programas estratégicos de crescimento com o tema de “igrejas multiplicadoras”. Assim este processo industrial tem lugar numa economia de crescimento, de modo que toda igreja/corporação cujas cifras de venda não superam às do ano passado, está em dificuldades.

     A Igreja revelada na Bíblia é uma família amorosa, não um negócio. É um organismo vivo, não uma organização. É a comunidade do Rei, não uma máquina hierárquica bem lubrificada. Este exemplo se acha, não só em Atos, mas ao longo das epístolas paulinas, e principalmente nas cartas de João.
Quem são os que não conseguem viver sem a “igreja instituição?”
    Infelizmente existe uma galera que não consegue viver fora dos muros institucionais. Quem são eles?
     Alguns são cantores e cantoras que não se veem sem uma platéia e sabem que só ali poderão se mostrar e alimentar sua vaidade e por isso não querem perder essa oportunidade.
     Outros são pessoas carentes de socialização que não conseguem se ver longe daquele ajuntamento. Firmam um compromisso com esse clube humano fraterno, e são fiéis a ele porque são pessoas mal resolvidas, com famílias em crise, sem vínculos afetivos estáveis, e que, encontra naquele ajuntamento de pessoas, a mesma coisa que um cara criado na rua encontra numa turma de malandros, ou seja, acolhimento e afinidade mesmo sabendo que todo aquele acolhimento não passa de falsidade. Por causa da carência, ele resolve não deixar de se envolver com aquilo, embora saiba que tudo ali está deturpado em relação ao evangelho.
   Há também outra classe que não consegue viver sem a instituição são os pregadores exibicionistas que não conseguem pregar sem uma platéia para adorá-los. Eles não têm a humildade de falar de Cristo pra duas ou três pessoas, preferem sempre uma multidão. E pra esses, quanto maior a “igreja”, melhor!      E por fim há também aquelas pessoas que gostam de ajudar financeiramente, dizimam fielmente, dão ofertas generosas e por isso são bajulados pelos líderes institucionais. Essa bajulação infla o ego deles ao ponto de não conseguirem mais viver em paz sem tal adulação. Quanto maior a dependência deles, mais o alto clero alimenta essa doença, exaltando, elogiando e contribuindo para que as arrecadações não parem, do contrário sejam cada vez maiores!
     Existe também alguns que simplesmente não abriram os olhos para a realidade, e, por terem mentalidade de rebanho ficam ali até serem impactados com a verdade e o poder do evangelho e mesmo relutando chegam a um ponto em que o Espírito Santo lhes convence que estão em um caminho nada legal.
      São esses que não conseguem viver sem a igreja instituição e procuram, com todas as forças e de todas as formas, defender esse sistema diabólico!
Somos Igreja no Senhor!
     Somos Igreja não por causa da denominação que frequentamos, ou por causa dos grandes e modernos prédios. Somos Igreja porque em nós habita o Espírito Santo de quem se doou por nós como prova do mais verdadeiro e puro amor.
     Em Cristo Jesus Nosso Senhor que nos ama como somos e nos chama para ser Igreja e não para estar entre quatro paredes da igreja institucionalizada. 
    
     Em Cristo
                                    
     Francisco Rodrigues Filho





[1] Como já escrevi, quando me refiro a “Igreja”, com i maiúsculo, é o que Jesus e o Novo Testamento definem como Igreja; ou seja, o encontro com Deus e uns com os outros em torno do nome de Jesus e em acordo de fé com o Evangelho.
   Quando falo “igreja”, com i minúsculo, me refiro a representação histórico-institucional do fenômeno histórico, social, econômico, político e culturalmente autodefinido como “igreja”. Aquela que tem uma hierarquia, sigla, geografia-fixa e membros sócios!
[2] Cristo fundou a Igreja, mas ela não é uma instituição de pedra, tijolo e cimento e sim um organismo vivo, livre e solto e não uma prisão exclusivista.
[3] Alguns deles lesavam o próprio governo com relatórios falsos, aceitando suborno. Esses homens eram classificados entre as prostitutas e os pecadores da classe mais vil.
   Provavelmente o propósito de Jesus era ter um apóstolo vindo dessa classe a fim de demonstrar mais claramente a graça de Deus. Os religiosos dessa época (os fariseus) consideravam os publicanos como homens sem esperança, sem direito ao arrependimento. Jesus mostrou que não há quem não possa arrepender-se, e que do meio dos homens mais infames Deus pode tirar quem quiser, para ser usado especialmente.
[4] Oséias 6.6ª, Mateus 9.13; 12.7.