Convite à Loucura Nº46 O Ser Igreja no Senhor.
Na Igreja
do Novo Testamento os crentes eram Igreja, hoje as pessoas pertencem a uma
igreja[1]. O ser Igreja é compreender que Deus nos ama como somos e
não como uma denominação diz que deveríamos ser. Ser Igreja é amar mesmo sem
ser amado, é saber que somos habitação de quem tanto nos amou e nos ama em sua
infinita graça e misericórdia mesmo sem merecermos.
O Pertencer a uma “igreja”.
Agora,
pertencer a “igreja” é outra coisa totalmente diferente dos princípios de
Cristo.[2] O pertencer a “igreja” é simplesmente estar na “igreja
instituição”. Cristo Jesus não nos chamou para pertencermos a “igrejas”
belíssimas e sim para sermos belíssimos como Igreja. Viver como Igreja é mais
importante do que erguer templos enormes para encher de pessoas vazias,
indivíduos que se fecharão naquele clubinho social e quase sempre condenando
outros que escolheram um viver diferente.
Cristo nunca se
distanciará do seu povo!
Os que pertencem à “igreja”, muitas
vezes descrevem um Jesus bem diferente do Jesus do evangelho, um Jesus tirano e
vingativo que por qualquer coisa se distancia do crente e ainda o castiga,
quando na verdade o Jesus do evangelho disse que estaria com o crente
verdadeiro “todos os dias até a consumação dos séculos.” (Mateus
28.20).
Deus nos ama não por razão de sermos
bonzinhos ou por que merecemos seu amor pois o amor de Cristo é incondicional.
No texto de Mateus 9.9-13 vemos Jesus amando alguém que era
odiado pela sociedade judaica, o publicano. Ele estava sentado na coletoria
porque ele era um coletor de impostos (v.9). Os coletores de impostos estavam
entre as pessoas mais desprezadas nessa sociedade. Pois
geralmente era um judeu que cobrava dos judeus para entregar para os romanos.
As vezes, parte do dinheiro coletado era para ganho pessoal e a outra parte era
imposto para Roma, assim eles eram considerados como traidores da nação
judaica.[3]
Isso mostra que Jesus não veio para os super crentes que pertencem à “igreja”,
veio para os pecadores que em Cristo e por causa de Cristo descansam sendo
Igreja (Mateus 11.28).
Diz
Jesus: “Segue-me!”
É interessante que o Senhor Jesus chama
Mateus usando o verbo grego que é o imperativo presente ativo de a)))kolouqe///w
(indicando que é uma ordem para fazer algo no futuro, e envolve uma ação
continuada ou repetida). Literalmente Cristo está dizendo: “Liga-te à minha pessoa a fim de ouvir e me seguir.” Ou seja, o
Senhor chamou Mateus para “ir atrás dele” e não ser guiado pelo preconceito dos
religiosos da época (os fariseus) que eram os sacerdotes e doutores da lei,
temidos por seu rigor e poder político. Hoje em dia os que lideram à “igreja” e
os que estão na “igreja instituição” são vistos da mesma forma que os fariseus
da época de Jesus tratando os outros como publicanos, mas graças a Deus que
Jesus veio justamente para os pecadores. E Jesus confronta os religiosos com a
frase: “...misericórdia quero, e não sacrifício...”.[4]
O sacrifício mais importante, maior e agradável para Deus é o nosso amor
sincero e isso só faz quem quer ser Igreja.
Estar na “igreja” nos limita, permanecer
na “igreja” nos isola. Agora o ser Igreja nos uni e nos faz de fato discípulos
que anda atrás de Jesus. Seja Igreja para servir e adorar a Deus em todo e
qualquer lugar, seja Igreja para pertencer a sociedade e fazer diferença do que
serve a Deus e do que não serve através do amor puro e verdadeiro sem querer
nada em troca.
Quem é Igreja acolhe, quem pertence a
“igreja” exclui, separa, quem está na “igreja” não consegue ir atrás de Jesus,
pois está preso a costumes, tradições e ao legalismo.
Quem está em Cristo faz parte de sua
Igreja, pois está salvo e viverá eternamente (João 5.24). Cabe agora ao homem
crer nessa providência e arrepender-se de sua atual situação de pecado (Atos
3.19). Não existe crente sem Igreja, pois ele é a Igreja! Todos nós, discípulos
de Cristo, somos Igreja de Deus e Cristo é a “cabeça dessa Igreja” (Efésios
4.15). Só Jesus é cabeça (grego; kefalh//// ) e ninguém
mais.
A
igreja como um negócio!
Cada vez mais a igreja institucionalizada
se assemelha a uma organização empresarial. Sua liderança e seus métodos para
com seus servos operários (os obreiros e missionários) estão cada vez mais
próximos de uma metodologia empresarial capitalista.
Os
escritores do Novo Testamento nunca usam a aparência de uma corporação
comercial para descrever a Igreja. Diferentemente da igreja institucional, os
cristãos primitivos não conheciam coisas como gastar quantidades colossais em
programas e projetos de construção, em vez de assumir o fardo pesado de seus
irmãos. A verdade é que a igreja institucional é visualizada como uma
corporação. O pastor é o executivo principal; há juntas e comitês. O
evangelismo é o processo industrial pelo qual é feito seu produto, e as vendas
podem ser traçadas num diagrama, comparadas e previstas, há também programas
estratégicos de crescimento com o tema de “igrejas multiplicadoras”. Assim este
processo industrial tem lugar numa economia de crescimento, de modo que toda
igreja/corporação cujas cifras de venda não superam às do ano passado, está em
dificuldades.
A Igreja revelada na Bíblia é uma família
amorosa, não um negócio. É um organismo vivo, não uma organização. É a
comunidade do Rei, não uma máquina hierárquica bem lubrificada. Este exemplo se
acha, não só em Atos, mas ao longo das epístolas paulinas, e principalmente nas
cartas de João.
Quem
são os que não conseguem viver sem a “igreja instituição?”
Infelizmente existe uma galera que não
consegue viver fora dos muros institucionais. Quem são eles?
Alguns são cantores e cantoras que não se
veem sem uma platéia e sabem que só ali poderão se mostrar e alimentar sua
vaidade e por isso não querem perder essa oportunidade.
Outros são pessoas carentes de
socialização que não conseguem se ver longe daquele ajuntamento. Firmam um
compromisso com esse clube humano fraterno, e são fiéis a ele porque são
pessoas mal resolvidas, com famílias em crise, sem vínculos afetivos estáveis,
e que, encontra naquele ajuntamento de pessoas, a mesma coisa que um cara
criado na rua encontra numa turma de malandros, ou seja, acolhimento e
afinidade mesmo sabendo que todo aquele acolhimento não passa de falsidade. Por
causa da carência, ele resolve não deixar de se envolver com aquilo, embora
saiba que tudo ali está deturpado em relação ao evangelho.
Há também outra classe que não consegue
viver sem a instituição são os pregadores exibicionistas que não conseguem pregar
sem uma platéia para adorá-los. Eles não têm a humildade de falar de Cristo pra
duas ou três pessoas, preferem sempre uma multidão. E pra esses, quanto maior a
“igreja”, melhor! E por fim há
também aquelas pessoas que gostam de ajudar financeiramente, dizimam fielmente,
dão ofertas generosas e por isso são bajulados pelos líderes institucionais.
Essa bajulação infla o ego deles ao ponto de não conseguirem mais viver em paz
sem tal adulação. Quanto maior a dependência deles, mais o alto clero alimenta
essa doença, exaltando, elogiando e contribuindo para que as arrecadações não
parem, do contrário sejam cada vez maiores!
Existe também alguns que simplesmente não
abriram os olhos para a realidade, e, por terem mentalidade de rebanho ficam
ali até serem impactados com a verdade e o poder do evangelho e mesmo relutando
chegam a um ponto em que o Espírito Santo lhes convence que estão em um caminho
nada legal.
São esses que não conseguem viver sem a
igreja instituição e procuram, com todas as forças e de todas as formas,
defender esse sistema diabólico!
Somos
Igreja no Senhor!
Somos Igreja não por
causa da denominação que frequentamos, ou por causa dos grandes e modernos
prédios. Somos Igreja porque em nós habita o Espírito Santo de quem se doou por
nós como prova do mais verdadeiro e puro amor.
Em Cristo Jesus Nosso Senhor
que nos ama como somos e nos chama para ser Igreja e não para estar entre
quatro paredes da igreja institucionalizada.
Em Cristo
Francisco Rodrigues Filho
[1] Como já escrevi, quando me refiro
a “Igreja”, com i maiúsculo, é o que Jesus e o Novo Testamento definem como Igreja; ou seja, o encontro com Deus e
uns com os outros em torno do nome de Jesus e em acordo de fé com o Evangelho.
Quando falo “igreja”, com i minúsculo, me
refiro a representação histórico-institucional do fenômeno histórico, social,
econômico, político e culturalmente autodefinido como “igreja”. Aquela que tem
uma hierarquia, sigla, geografia-fixa e membros sócios!
[2] Cristo fundou a Igreja, mas ela não é uma instituição de pedra, tijolo
e cimento e sim um organismo vivo, livre e solto e não uma prisão exclusivista.
[3] Alguns deles lesavam o próprio governo com relatórios falsos, aceitando
suborno. Esses homens eram classificados entre as prostitutas e os pecadores da
classe mais vil.
Provavelmente o propósito de Jesus era ter
um apóstolo vindo dessa classe a fim de demonstrar mais claramente a graça de
Deus. Os religiosos dessa época (os fariseus) consideravam os publicanos como
homens sem esperança, sem direito ao arrependimento. Jesus mostrou que não há
quem não possa arrepender-se, e que do meio dos homens mais infames Deus pode
tirar quem quiser, para ser usado especialmente.