A
verdade sobre a Ceia do Senhor
Recentemente,
estive freqüentando um edifício religioso, que está passando por uma reforma, e
se concluída, logo se tornará uma bela catedral, e nessa oportunidade, tive a
chance de participar de um ritual legalista religioso e hipócrita, que eles
denominam de “Ceia do Senhor ou Santa Ceia”, onde, fui muito criticado pelo meu
comportamento em relação à liturgia, ou seja, no modo como o ritual era
ministrado.
As
objeções surgiram, quando, antes do sacerdote, ou melhor, sacerdotisa, que na
ocasião, era uma mulher que ministrava a cerimônia, ler o trecho bíblico de 1Co
11.23..., onde, ninguém, jamais, em tempo algum, poderia comer aquele minúsculo
pedaço de pão e beber aquele copinho com suco de frutas cítricas
industrializado com sabor de uva. O sistema clerical moderno quer impor na
marra, que tudo aquilo feito naquela reunião e em muitas outras pelo mundo, é
um momento genuinamente cristão denominado de Ceia do Senhor.
Mas,
na verdade, o que é a Ceia do Senhor? Existe alguém hoje que celebra esse
sacramento ou ordenança seriamente hoje? Essas e outras perguntas serão
respondidas a luz da palavra de Deus e do testemunho histórico.
Basta
uma leitura atenta do texto Bíblico para logo poder perceber que a Ceia tinha
um lugar especial na vida dos cristãos do primeiro século, e de acordo com as
mais deferentes tradições eclesiásticas de nosso mundo moderno, ela pode ser
tomada semanalmente, mensalmente ou até mesmo anualmente, mas no texto Bíblico
Também podemos perceber essas tradições, mas o que importa aqui não são
tradições e sim a importância e a forma de cear dos cristãos, e também, não
menos importante, o significado. Frank Viola dá um conceito muito legal sobre a
ceia quando diz:
“O partir do pão também nos recorda
da cruz de nosso Senhor. O pão é feito de trigo moído. O vinho, de uvas pisadas.
Ambos os elementos representam morte. Quando através da Ceia, comemos da carne
de Cristo e bebemos o seu sangue, recebemos sua vida que nós é comunicada (Jo
6.53). Este é o princípio da ressurreição: a vida que brota da morte.”
Hoje
em nosso mundo gospel, esse conceito não existe mais, pois o momento da Ceia
tornou-se, principalmente em ambientes pentecostais, à hora da revelação e
lavagem de roupa suja, onde os agregados da congregação são ameaçados com a
morte física e doenças se caso tome a Ceia indignamente. Mas, quanto à
explicação desse misticismo, será assunto de outra publicação em breve. Com
isso, a igreja torna-se num lugar sombrio, onde se observa quem tomará ou não a
Ceia, pois é o momento ideal para se identificar pecados na igreja. E o pior de
tudo, é a hipocrisia de quem ministra, pois está muito interessado em saber
quais são os possíveis escândalos da igreja que serão revelados através do medo
e achando que está sendo o mais santo de todos por ser um sacerdote de meia
tigela.
Uma
leitura atenta de 1Coríntios 11, derruba por terra toda essa farsa que é a
atual Ceia de nossas instituições eclesiásticas, e desmascara esses falsos
profetas, lobos devoradores travestidos de ovelhas, mercadores e traficantes da
Palavra. 1Coríntios 11 deixa bem claro que os cristãos primitivos se reuniam
para tomar a Ceia como uma refeição! Alguns apressadinhos comiam e nem
esperavam os atrasados chegarem e outros até bêbados ficavam (1Co 11.21-22).
Agora pense um pouco! Poderia um cristão ficar bêbado com um simples copinho de
suco de frutas cítricas com sabor de uva e se fartar com um pedacinho de pão?
Claro que não! Então, já começa com tudo errado essas reuniões cerimoniais
denominadas de Ceia, pois é menos gasto para uma congregação de 100 pessoas comerem
um simples pedacinho de pão e um copinho minúsculo de suco. Ora, quanto seria
para os cofres eclesiásticos a cada reunião um banquete para 100 pessoas? Com
certeza esse gasto mensal quebraria a banca e não haveria dinheiro para a
mesada do sacerdote fiscal dos negócios de Deus aqui na terra.
Com
essas atitudes eclesiásticas hodiernas, podemos perceber claramente a
verdadeira intenção desses comerciantes da fé em ministrar a “ceia” em nossos
dias. Para entender-mos melhor, veremos o que é a Ceia do Senhor.
Os cristãos tomavam a
refeição simbólica da Ceia do Senhor para relembrar e comemorar a Última
Ceia, na qual Jesus e seus discípulos observaram a tradicional festa judaica da
Páscoa[1]. Na Páscoa os judeus regozijavam-se porque Deus os havia
libertado de seus inimigos na terra do Egito. Na Ceia do Senhor, os
cristãos celebravam o modo como Jesus os havia libertado do pecado e sua
esperança pelo dia quando Cristo haveria de vir (1Co 11.26).
A princípio, a Ceia do Senhor era uma refeição completa que os cristãos
partilhavam em suas casas[2]. Cada convidado trazia um prato para a mesa comum. A refeição
começava com oração e com o comer de pedacinhos de um único pão que
representava o corpo partido de Cristo. Encerrava-se a refeição com outra
oração e a seguir participavam de uma taça de vinho, que representava o sangue
vertido de Cristo.
Algumas pessoas comentavam que os cristãos estavam participando de um rito secreto quando observavam a Ceia do Senhor, e inventaram estranhas histórias a respeito desses cultos. O imperador Trajano proscreveu essas reuniões secretas por volta do ano 100 dC. Nesse tempo os cristãos começaram a observar a Ceia do Senhor durante o culto matutino de adoração, aberto ao público.[3]
Assim era Ceia que Jesus havia ensinado e praticado com os
apóstolos no Cenáculo. Era o partir do pão entre os irmãos, tudo feito
"com alegria e singeleza de coração", longe dos ritualismos do templo
e das regras cerimoniais da religião. A partir de metade do século II,
essa prática simples e natural feita entre os irmãos, de partir o pão e beber o
vinho em memória de Cristo, foi recebendo elementos místicos[4].
Alguns, entre eles, Tertuliano e Orígenes, começaram a ensinar que o pão e o
vinho, após serem consagrados por meio de oração, se transmutavam no próprio
corpo e sangue de Jesus através de um processo místico. Uma doutrina que não
havia sido ensinada nem por Jesus nem pelos Seus apóstolos.
Então, com o andar dos séculos, a Ceia foi perdendo sua
forma original. A simplicidade, alegria e singeleza de coração no partir do pão
nas casas foram abandonadas descaradamente em função do misticismo,
cerimonialismo e liturgia institucional. Atualmente, com a deturpação
sofrida não somente por essa prática, mas por muitas outras, a narrativa de
Atos 2:42-46 pode até causar espanto. Pessoas partindo o pão em suas casas, com
alegria e singeleza de coração??? Isso não pode ser a Santa Ceia!!! Cadê o
templo? O altar ou púlpito devidamente adornado? Tinha algum líder devidamente
credenciado e vestido para celebrar essa cerimônia[5]?
E a liturgia? Poderão
questionar alguns, condicionados pela religião a pensar que a Ceia é uma ritual
cheio de regras, maneirismos, misticismos e tantos outros "ismos" que
vemos nas igrejas atuais[6]...
A Ceia era a
manifestação externa daquilo que aqueles irmãos já viviam em sua rotina diária[7].
Lucas nos mostra que "todos os
que criam estavam juntos, e
tinham tudo em comum" (Atos 2:44). Não havia divisões nem sectarismos.
Logo, a Ceia era uma manifestação externa daquilo que eles já viviam
espiritualmente como Igreja. Não havia necessidade de rituais vazios.
Se fôssemos ao 1º século e víssemos como os irmãos celebravam a
Ceia, perceberíamos a gritante diferença que há entre aquela sincera celebração
e o ritual no qual se transformou hoje. Nos primórdios da Igreja, a Ceia estava
inserida numa autêntica refeição. Os irmãos se reuniam, comiam juntos e,
inserido nesse momento de alegre refeição coletiva, compartilhavam um pão e um
cálice de vinho, como forma de comunhão, em memória de Cristo. Sem
cerimonialismos, palavras decoradas, constrangimentos ou qualquer tipo de
misticismo. Algo simples, mas, ao mesmo tempo, profundo.
Então, a Ceia está inserida num contexto maior de verdadeira
comunhão. Se não houver verdadeira e genuína comunhão no seio da Igreja, a
celebração da Ceia perde o seu significado. Com o passar dos anos, essa prática
foi virando um ritual, realizado exclusivamente por "homens
especiais" devidamente autorizados a realizá-lo, adotando todo o
ritualismo próprio das religiões e dos religiosos, participando desse ritual,
geralmente realizado num templo, pessoas que, muitas vezes sequer se conhecem
ou mantém qualquer comunhão no dia a dia[8]...
Que o Senhor Jesus nos guie à verdadeira comunhão que deve existir
em Sua Igreja. Uma comunhão sem sectarismos, dissensões, denominacionalismos,
institucionalismo, vaidades pessoais e os rituais e conceitos próprios das
grandes religiões. A Igreja de Cristo não é uma religião. É comunhão sincera
entre irmãos, que pertencem a um mesmo Corpo e Senhor. A celebração da Ceia
deve estar inserida nesse contexto. Se não estiver, não passa de um dentre as
centenas de rituais vazios feitos em nome de Deus.
Então,
com tudo isso, pode existir alguma verdade nas igrejas institucionais de
nossos dias?